O Brasil aguarda apenas uma decisão política interna para a aplicação do acordo ortográfico, disse o presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério brasileiro da Educação
«Falta uma decisão política para darmos início à fase de transição, principalmente no que diz respeito às editoras brasileiras», afirmou Godofredo de Oliveira Neto, que também é director do Conselho Científico do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) e subsecretário de Planeamento da Educação do Estado do Rio de Janeiro.
Logo que as novas regras comecem a vigorar, inicia-se um período de transição para que os Ministérios da Educação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didácticos possam, gradualmente, reimprimir livros, dicionários, cartilhas e outros materiais.
Segundo o Oliveira Neto, a Comissão para Definição de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), «está de prontidão para ser accionada a qualquer momento» para aplicar o acordo.
A medida incentivará a utilização do idioma pelas organizações internacionais, já que existência de duas ortografias prejudica a divulgação da língua portuguesa e a sua prática em eventos internacionais.
Recentemente, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse à Lusa que «seria muito importante, do ponto de vista editorial, que Brasil e Portugal estivessem juntos quando arrancar o acordo ortográfico».
Amorim escusou-se a responder, entretanto, se o Brasil adoptaria as novas regras ortográficas sem Portugal.
Em princípio, a ortografia comum da língua portuguesa já pode entrar em vigor, porque três dos oito países lusófonos - Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - já ratificaram o acordo e também o protocolo modificativo ao acordo, aprovado em Julho de 2004, em São Tomé, durante a Cimeira da CPLP ali realizada.
O protocolo modificativo permite que o acordo vigore com a ratificação de apenas três países da CPLP, sem a necessidade de aguardar que todos os outros membros da organização adoptem o mesmo procedimento.
Portugal já ratificou o acordo, mas ainda falta ratificar o protocolo modificativo. Segundo especialistas, as modificações propostas no acordo devem alterar 1,6 por cento do vocabulário de Portugal.
Os portugueses deixarão de escrever «húmido» para usar a nova ortografia - «úmido».
Desaparecem também da língua escrita em Portugal o «c» e o «p» nas palavras onde estas letras não são pronunciadas, como em «acção», «acto», «baptismo», «óptimo».
No Brasil, a mudança será menor, já que apenas 0,45 por cento das palavras terão a escrita alterada.
O trema utilizado pelos brasileiros desaparece completamente.
Outro exemplo é o fim do acento circunflexo nas paroxítonas terminadas em «o» duplo («vôo» e «enjôo»), usado na ortografia do Brasil.
O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do «k», «w» e «y».
Apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.
Lusa/SOL
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