Quase desde criança ouço falar de um acordo ortográfico entre todos os países com o português como língua oficial. Em 1990 muito se falou desse acordo, mas ficou apenas por isso mesmo, conversa.
Agora parece que finalmente o governo português se decidiu a ratificar o acordo por uma ortografia comum do idioma português. Pretende-se com o Acordo a unidade da Língua na escrita e só na escrita, naturalmente.
Acreditam alguns especialistas, e não apenas eles, mas também os políticos, que, unificada, a Língua portuguesa terá outra força, ganhará em «poder de afirmação» nas instâncias internacionais. Em termos práticos, o que muda com a ratificação do Acordo Ortográfico?
A unificação da ortografia implica que 1.6 por cento do vocabulário português tem de ser modificado. No vocabulário brasileiro haverá 0.45 por cento de alterações. Isto é o que diz o Acordo, mas, na prática, a percentagem é muito maior na língua portuguesa, tanto mais que as palavras em causa são frequentemente usadas. a dupla grafia pode atenuar as alterações.
O alfabeto passa a ter 26 letras com a inclusão do «K», o «Y» e o «W»;
Apesar das mudanças a nível de ortografia, as pronúncias próprias de cada país continuam iguais.
Exemplos de palavras que vão ter dupla grafia devido à diferença de pronúncia entre Portugal e Brasil: académico/acadêmico, amazónia/amazônia, anatómico/anatômico, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, cénico/cênico, cómodo/cômodo, efémero/efêmero, fenómeno/fenômeno, gémeo/gêmeo, género/gênero, génio/gênio, ténue/tênue, tónico/tônico e também bebé/bebê, bidé/bidê, canapé/canapê, caraté/caratê, cocó/cocô, croché/crochê, guiché/guichê judo/judô, matiné/matinê, metro/metrô, puré/purê.
Exemplos práticos de alterações na grafia: cai o «h» como em «húmido» e fica úmido, desaparecem o «c» e o «p» nas palavras onde não se lêem (são mudos), como acção, acto, baptismo ou óptimo.
Mais exemplos de consoantes que desaparecem com o novo acordo: acionar, adjetival, adjetivo, adoção, adotar, afetivo, apocalítico, ativo, ator, atual, atualidade, batizar, coleção, coletivo, contração, correção, correto, dialetal, direção, direta, diretor, Egito, eletricidade, exatidão, exato, exceção, excecionalmente, exceções, fator, fatura, fração, hidroelétrico, inspetor, letivo, noturno, objeção, objeto, ótimo, projeto, respetiva, respetivamente, tatear.
Nas sequências «mpc», «mpç» e «mpt», se o «p» for eliminado, o «m» passa a «n», como assunção e perentório.
As terminações verbais «êem» deixam de ser acentuadas em Portugal e no Brasil (exemplos: creem, deem, leem, veem, incluindo os verbos com as mesmas terminações: descreem, releem, reveem, etc).
Deixa de ter acento diferencial a forma verbal de «para».
O acento diferencial para distinguir o passado do presente passa a ser facultativo As formas monossilábicas do verbo haver perdem o hífen. Exemplos: «hei de», «hás de», «há de», «hão de». A palavra «fim-de-semana» também fica sem hífen.
O hífen cai também em palavras compostas (em que se perdeu a noção de composição), que passam a ser escritas assim: mandachuva, paraquedas e paraquedista.
Ainda em relação ao hífen: fusões de palavras quando há duplicação do «s» ou do «r», como antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, extrarregular, infrassom.
O novo acordo recomenda também que se generalize a fusão quando a terminação é uma vogal e o segundo elemento começa com vogal diferente: extraescolar, autoestrada. Meses e estações do ano passam a escrever-se com letra minúscula
No vocabulário brasileiro desaparece o acento circunflexo em palavras como abençôo, vôo, crêr, lêr e outras.
Desaparece também também o trema em palavras como lingüíça, freqüencia ou qüinqüénio, assim como o acento agudo nos ditongos abertos como por exemplo assembléia ou idéia.
Os defensores do acordo fazem questão de sublinhar que não elimina em nenhuma palavra qualquer letra que se leia numa pronúncia culta da língua, não estabelece regras de sintaxe, não interfere com a coexistência ou com as regras de normas linguísticas regionais, tem a ver somente com a maneira de escrever as palavras!
Com o Acordo Ortográfico, a grafia das palavras passa a ser regulamentada nos países de língua portuguesa.
Muitas bandeiras se têm levantado nos ultimos dias, umas a favor do Acordo, outras contra, quanto a mim sinceramente não me agrada ter que “desaprender” tudo o aprendi e utilizei desde a primária, no entanto reconheço que algumas destas alterações até fazem sentido p.ex. batismo em vez de, baptismo, outras nem por isso p.ex. se deixar de existir o acento diferencial da forma verbal de «para» como vamos distinguir o «para» do «pará» ou o «facto» do «fato»?.
No entanto tal como dizia Fernando Pessoa - «a minha Pátria é a Língua Portuguesa» e se este Acordo resultar realmente numa consolidação da Língua Portuguesa como língua de múltiplos continentes então será muito pouco aquilo que nós é pedido.
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