EUA/Português:
|
Lisboa, 16 Nov (Lusa) - O secretário de Estado das Comunidades, António Braga, lamentou hoje as declarações do presidente norte-americano, George Bush, que terça-feira criticou as despesas com o ensino de português nos Estados Unidos. "Lamento que o Português, língua oficial de oito países, com 250 milhões de falantes e instrumento de trabalho nas instâncias internacionais possa ser vista nesta perspectiva", disse António Braga à agência Lusa. O presidente norte-americano, George W. Bush, vetou terça-feira uma proposta apresentada pelo congressista democrata Patrick Kennedy de financiamento de programas de educação, onde se incluía o ensino do português como segunda língua, classificando-os como "projectos esbanjadores". "O Congresso deve aos contribuintes esforços melhores", disse Bush. António Braga reconhece legitimidade à posição assumida pelo presidente dos Estados Unidos, contudo sublinhou que esta não corresponde à "crescente importância e afirmação do português", que tem vindo a ser adoptado como segunda língua em outros países, como no Uruguai. O responsável português adiantou ainda que é apenas uma "questão de tempo" até que o presidente norte-americano se aperceba dessa importância. António Braga rejeita a ideia de que a opinião de George W. Bush possa influenciar outros países nesta matéria e não acredita que a comunidade portuguesa se sinta melindrada com a opinião do presidente. Nos Estados Unidos, vive mais de um milhão de portugueses. CFF
|
Acordo Ortográfico: O que vai mudar quando estiver em vigor Os efeitos não serão imediatos - mas a disposição recentemente anunciada pelo governo português de aprovar até ao final do ano o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa poderá ter desfeito algumas dúvidas, atenuado reticências, dissipado mesmo suspeições de «bloqueio». |
O processo, de um momento para o outro, parece ter ganho um novo ímpeto. Segundo o chefe da diplomacia portuguesa, Luís Amado, disposição idêntica à de Portugal foi entretanto manifestada por Angola, Moçambique e Guiné-Bissau: os três comprometeram-se a ratificar «rapidamente» o Acordo e o Protocolo Modificativo. Falta agora converter «rapidamente» em medida de tempo... A pergunta tem sido e continuará a ser feita: quando todo o processo - legal e diplomático - estiver concluído, quantos mais anos serão necessários para que todos os países falantes de Português o escrevam da mesma maneira? Malaca Casteleiro, um linguista na primeira linha da defesa do Acordo, disse à Lusa que, entrando o documento em vigor, será necessário um período de adaptação «que não deve ser inferior a quatro anos, para permitir as alterações em dicionários, manuais escolares e para a aprendizagem das alterações ortográficas». Quatro anos em Portugal, o Brasil não deverá levar mais tempo a consegui-lo, mas quantos anos em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau,São Tomé e Príncipe ou em Timor-Leste, que não solicitou ainda a adesão ao Acordo? O futuro - o que é dizer também a real vontade política dos intervenientes - o dirá. Pretende-se com o Acordo «a unidade da Língua» - na escrita e só na escrita, naturalmente. Acreditam os especialistas, e não apenas eles, que, unificada, a Língua portuguesa terá outra força, ganhará em «poder de afirmação» nas instâncias internacionais. Para que a unidade se efective há cedências a fazer de um lado e do outro do Atlântico. Quem cede mais? Os especialistas deitaram-se ao estudo e fizeram balanços: as modificações propostas no Acordo devem alterar 1,6% do vocabulário de Portugal. Os portugueses deixarão, por exemplo, de escrever «húmido» para usar a nova ortografia - «úmido». Desaparecem também da actual grafia em Portugal o «c» e o «p» nas palavras em que estas letras não são pronunciadas, como em «acção», «acto», «baptismo» e «óptimo». Diz Malaca Casteleiro que as alterações a introduzir, «importantes para unificar e dar força» à língua portuguesa, «não são dramáticas, não vão assustar as pessoas». No Brasil, a mudança será menor, porquanto apenas 0,45% das palavras terão a escrita alterada. O trema utilizado pelos brasileiros desaparece completamente e ao hífen acontece o mesmo quando o segundo elemento da palavra comece com «s» ou «r», casos em que estas consoantes devem ser dobradas, como em «antirreligioso» e «contrarregra». Apenas quando os prefixos terminam em «r» se mantém o hífen. Exemplos: hiper-realista, super-resistente. O acento circunflexo sai também de cena nas paroxítonas (palavras com acento tónico na penúltima sílaba) terminadas em «o» duplo («vôo» e «enjôo»), usado na ortografia do Brasil, mas não na de Portugal, e da terceira pessoa do presente do indicativo ou do conjuntivo de «crer», «ler», «dar», «ver» e os seus derivados. Passará a escrever-se: creem, leem, deem e veem. No Brasil, o acento agudo deixará de usar-se nos ditongos abertos «ei» e «oi» de palavras paroxítonas como «assembleia» e «ideia». Com a incorporação do «k», «w» e «y», o alfabeto deixará de ter 23 letras para ter 26. 11-11-2007 10:01:00 |